Na eleição passada eu votei em Marina. Queria distância da polarização imposta pelos dois candidatos principais que nos obrigava à uma radicalização de idéias. Como se o mundo só tivesse duas cores. Me senti como o personagem Gulliver em sua última viagem.
Votei em Marina pelo seu programa de governo, mesmo ciente que o partido o qual representa é um balaio de gatos igual à qualquer outro. Iria votar em branco no segundo turno, quando me lembrei dos Houyhnhm. Eu não sou um Houyhnhm. Tampouco sou um Yahoo.
Votei na Dilma e no PT, apesar dela não ter programa de governo, mas porque o programa que ela representa foi referendado por mim há oito anos atrás. Votei na Dilma porque mesmo sabendo que a coligação encabeçada por ela não passa de um balaio de gatos também, mas tem alguns gatos mais bem intencionados e comprometidos com meus ideais. Votei na Dilma, mesmo sabendo que alguns dos setores que ela representa acharem que os fins justificam os meios, mas vivemos em uma democracia ainda forte o suficiente que nos permita contestá-los, como eu fiz na eleição passada e nessa.
Votei na Dilma, porque vivi a transformação do Nordeste e de boa parte de seu povo e estou ciente que essa transformação ocorreu também com pessoas semelhantes em outros lugares do Brasil de onde eu vim. Votei na Dilma, porque sou testemunha de que as políticas públicas idealizadas por muitos de minha geração já são realidade. Votei na Dilma, pois sei que falta muito para alcançarmos o país com o qual sonhamos, mas que aumentar o salário mínimo para R$ 724,00 e dar 10% para os aposentados só vai criar condições desfavoráveis para que realmente cheguemos lá.
Enfim, votei na Dilma porque não sou melhor e nem pior que os outros, mas prefiro ficar em paz com minha consciência. Ao contrário de Gulliver não penso que a humanidade não presta e que portanto alguns ideais justificam manter parte dela na ignorância ou que a cultura trará sabedoria e luz à todos. Aprendi que muitos dos piores homens da humanidade eram cultos e se passavam por sábios. E por último, votei na Dilma, porque aqui não é a Inglaterra de Jonathan Swift.