terça-feira, maio 22, 2007

Rapsódia sobre a corrupção



1º Movimento - Estupefato

É impressão minha que está havendo uma oferta maior que a demanda para lesar os cofres públicos? Talvez estejamos mal acostumados, mas custo a acreditar que alguém se venderia por cem mil reais ou um carro importado apenas. Eu sei, eu sei que a questão não está no valor, mas por favor , vamos parar de usar como justificativa a impunidade ou a incompetência do nosso judiciário. Atolado em leis que abusam das contradições, elaboradas por um legislativo eleito por nós mesmos, essa justificativa já está parecendo escárnio com os honestos. Tudo bem, a impunidade é uma característica cultural herdada pela nossa elite, mas ou os critérios para ser considerado "elite" estão muito flexíveis ou precisamos reavaliar o que ela venha a ser.
Pior ainda tem sido as demonstrações de exibicionismo dos mosqueteiros do rei, os nem sempre bem vistos homens de preto e amarelo. Elas beiram ao ridículo, quando logo depois eles cedem ao corporativismo e deflagram greves de advertência.


2º Movimento - Melancólico

A crise que vivemos é maior ainda. Ela é moral. É de valores! Estou falando de honradez aonde de nada justificaria o nosso patrimônio se ele fosse adquirido por meios ilícitos. Aprendi ainda cedo que, de nada adianta a minha riqueza se o meu direito de andar de cabeça erguida estiver comprometido. As leis as quais fui ensinado a obedecer estavam vinculadas ao julgamento da sociedade na qual eu vivia. Poderia escarnecer de algumas delas, mas a desaprovação por parte de meus semelhantes era suficiente para eu pensar duas vezes. Ou, na pior das hipóteses, estabelecer um preço bem alto por ela...

3º Movimento - Temeroso

Há épocas de tal corrupção, que, durante elas, talvez só o excesso do fanatismo possa, no meio da imoralidade triunfante, servir de escudo à nobreza e à dignidade das almas rijamente temperadas
Alexandre Herculano

Parece-me que as lições da Bastilha, quando os ideais humanistas justificaram os atos desumanos que ceifaram milhares de inocentes, foram esquecidas. Pior ainda. Será que nos esquecemos que as leis foram elaboradas como forma de permitir a nossa convivência em grupos sem que a lei do mais forte prevalecesse..E talvez aí esteja a causa da violência cotidiana a qual estamos sendo sumetidos...
Ao contrariarmos estas leis estamos abrindo espaço para intervenções que venham repetir a nossa história recente. Justificativas "morais" para a tomada do poder e o estabelecimento de uma "nova ordem".
Espero, sinceramente, estar errado. Mas a história é cíclica, e como dizia Galileu: "Epur se muove."

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