segunda-feira, maio 14, 2007

Falar, Pensar


Não é de hoje que se percebe que falar e pensar, parecem, na maioria das vezes dissociados. A capacidade de articularmos a nossa fala com o nosso pensamento exige paciência, treinamento e disciplina. Ao contrário de quando escrevemos, quando temos o tempo que quisermos para dar estilo e forma ao texto, para falarmos de improviso é preciso um dom. E dom é algo que se nasce com ele. De que adianta a coragem, um histórico de lutas se com meia duzia de palavras vamos ficar marcados eternamente?

Mas vamos ver a coisa por outro lado. Durante muito tempo, o discurso e mesmo a fala de improviso restringia-se ao "fala-se muito, mas não se diz nada". É essa a técnica que garantiu a memória de grandes "oradores". Expressões de impacto, palavras difíceis colaboram na construção de falas - quem não se lembra da época do economês?

De uns tempos para cá, com a explosão da mídia de impacto rápido a imprensa e a sociedade tem tido muito mais oportunidade de criticar o conteúdo e não o contexto de palavras que muitas vezes não sabem expressar aquilo que na realidade queríamos dizer. Mas o pior é que na maioria das vezes quis dizer exatamente o que achamos. É possível esconder toda a sorte de personalidade e caráter por trás de falas bem articuladas mas vazias. Mas ao não dominarmos a capacidade de falar, e simplesmente dizermos "não tenho opinião formada sobre isso" deixamos escapar não apenas palavras, mas conceitos e pensamentos que começam a mostrar a verdadeira imagem de cada um.

A cultura de cada um é formada não nos livros que lemos mas na vida que vivemos.Personalidade, meio ambiente, acesso a informação se misturam à uma série de outros ingredientes para formar cultura individual. Ignorar e não relevar isso é importante, mas talvez o pior é julgarmos os outros por meia dúzia de palavras. Pior do que a meia dúzia de palavras que deu origem ao falatório.

Uma boa segunda-feira para você.

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